quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Trip III - Auschwitz

Eu realmente acho que essa parte da viagem merce um post individual, inclusive eu acabei de chegar da viagem e já estou escrevendo pra tentar "não perder nada" na memória, eu não sei quando vou postar porque quero ter uma sequência cronológica no meu blog, mas estou escrevendo hoje, dia 21/07/2014, dois meses após chegar na Hungria.

Bom, no dia 18, assim que chegamos na Cracóvia fomos pro hostel e saímos andar no centro. Já tinhamos em mente que iriamos para Auschwitz, e inclusive já haviamos nos informado no hostel, o tour custava 110 PLN. Andando no centro histórico da cidade encontramos uma agência com preço para estudante de 65 PLN, quase a metade do valor oferecido pelo hostel, ou seja, vale a pena procurar!

O tour incluía translado para o museu Auschwitz I e para o campo de concentração Auschwitz II - Bierkenau, há ainda o Auschwitz III, mas esse não estava incluso na visita. Havia um ponto de encontro, próximo do Castelo da Cracóvia, cerca de 20 min à pé do hostel. O horário era as 9:00h.

A viagem durou cerca de 1 hora com exibição de documentário sobre os campos de concentração. Chegando lá, os responsáveis pelo tour compraram os tickets e nos encaminharam para colocar os fones de ouvido que usamos para acompanhar a guia no tour de Auschwitz I.

A visita começa dando um tour entre as construções do campo, assim tivemos uma visão geral do lugar. Depois disso começamos a entrar nas construções, onde de fato são os museus. No primeiro em que entramos, logo demos de cara com um corredor com várias fotos das vítimas e seus dados: Nome, data de nascimento, data que chegou no campo e ainda a data que morreu e seu número. A propósito, o número era tatuado no braço para identificação, não só para o dia-dia, mas também para a identificação dos corpos, uma vez que a morte era questão de tempo. As crianças que lá nasciam, caso sobrevivessem mais de duas semanas, também eram tatuadas, porém nas costas. A diferença entre a data de chegada e a data de saída era questão de poucos meses ou dias.







No corredor onde estão as fotos, existem algumas salas que mostram as instalações da época:



Entre um bloco e outro, fomos levados a esse paredão de execução. É absurso o mal estar que isso começa a causar, de imaginar que ali, diante de você, poucos metros, sabe se lá quantas pessoas morreram por serem acusadas de "desbodiencia" dentro do campo de concentração.



Alguns exemplos do ódio nazista:


"Nós devemos libertar o povo alemão dos Poloneses, Russos, Judeus e Ciganos" - Ministro da Justiça do 3º Reich

"Judeus são uma raça que deve ser totalmente exterminada" - Governador Geral da Polônia ocupada pelos Nazistas

Número estimado de judeus enviados para Auschwitz:

Os Judeus eram enviados para os campos de concentração de trem sem saber pra onde iam, o porque, não sabiam absolutamente nada, inclusive levavam suas coisas pessoais, como se fosse uma viagem qualquer. Quando chegavam no campo de concentração por uma linha de trem que os levava diretamente para o campo de concentração eram obrigados a desfazer de tudo e ir para a triagem que consistia em avaliar quem era "útil". Entenda-se por útil aquele que seria capaz de trabalhar ou servir para algum tipo de experimento. Cerca de 25% eram encaminhados direto para a morte nas câmaras de gás acreditando que tomariam banho para desinfecção. Os que eram capazes de trabalhar eram submetidos a trabalho escravo e condições de vida desumanas.



Chegada de Judeus vindo da Hungria - Note o rosto das crianças.


Em dado momento da visita, havia uma placa dizendo ser proibido tirar fotos. Eu não entendi, apenas respeitei. Assim que entro na sala, ao mesmo tempo que vejo uma montanha a guia começa a descrever do que se tratava: "quando chegavam aqui, a cabeça era raspada. aqui do lado esquerdo temos duas toneladas de cabelo...". Sim, duas toneladas de cabelo!  Com certeza muito mais cabelo foi cortado, afinal estima-se que 1,3 milhões de pessoas morreram em Auschwitz, mas ver aquela montanha de cabelo me quebrou as pernas. Fiquei mal, chocado, com nó na garganta. Minha cabeça começou a imaginar tudo como se fosse um filme. O calor dentro da sala me fazia sentir ainda pior, era agoniante, só queria sair dali. 

Nas salas seguintes era permitido tirar fotos, e ai estão alguns dos pertences deles:






Seguimos para a câmara de gás eram usadas para matar os prisioneiros, sejam eles oriundos da triagem ou ainda para "controle de população" no campo. As câmaras eram usadas por serem capazes de matar 200 pessoas em 20 minutos de maneira "barata e eficaz". Munição era cara, demorada e o sangue faria muita sujeira. No caso das câmaras de Auschwitz II, essas matavam 2000 por vez.


Essa é uma parede de uma câmara de gás de Auschiwtiz I, com marcas de unhas.



A Câmara



Crematório

Saímos de Auschwitz I e fomos para Auschwitz II. Saímos de lá, tensos, não tem como negar.






Esse era muito maior que o primeiro e a precariedade das instalações eram ainda maiores. Cerca de 100 mil pessoas "viviam" ali. O campo estava em expansão durante a guerra, mas com seu fim a sua construção foi abandonada.


Trilhos onde desembarcavam os prisioneiros.  


Vagão de Trem onde os prisioneiros eram trazidos.



"Alojamentos"?

Os prisioneiros dormiam nessas construções em três camadas sem nenhum tipo de proteção para deitar, ou se cobrir. Passavam períodos de cerca de 3 meses sem tomar banho, com condições de higiene absolutamente mundanas. Segundo a guia, os que dormiam nos chão sofriam mais, uma vez que durante as chuvas, a água que passava pelos outros prisioneiros caiam sobre eles cheia de sujeira e contaminação. Os que tinham sapatos não os tiravam para dormir, pois poderiam ser roubados. 

Aqui eu pude sentir um pouco o quão difícil era sobreviver lá. Em cada um desses andares dormiam 8 pessoas, num espaço que caberiam no máximo 4. O calor ai dentro era insuportável, eu suava sem que ninguém estivesse por perto. No inverno o frio deveria ser ainda mais terrível.


Abaixo estão de uma das câmaras de gás que lá existiam. Capacidade para 2000 pessoas.



Penso que esse é um lugar que todas as pessoas deveriam passar alguma vez na vida. Saímos de lá calados, cabisbaixos, pensativos. Eu pelo menos, chocado, horrorizado. Uma coisa é você ouvir falar, outra é você ver com os próprios olhos, sentir. Ver algo que foi construído para escravizar pessoas, tratá-las como lixo e ainda usado para matá-las como num sistema de produção é algo que muda qualquer pessoa. Estar num local onde cerca de 1,3 milhões de pessoas morreram mexeu comigo. Não só pelo holocausto mas pela maneira que o homem trata o homem. Abriu minha mente.

Santa Inquisição e o  Tráfico Negreiro foram as primeira coisas que me vieram a cabeça após sair de lá. Não faço ideia de quantas  pessoas morreram nesses "eventos" mas aconteceram por anos. E esses são só dois exemplos de quem não entende nada de história. Auschwitz mantem vivo o Holocausto, e que mantenha-se como exemplo da podridão que o homem é capaz de fazer.

Vou fechar o post com duas fotos: uma minha, apenas para registrar que estive lá e outra com uma mensagem presente nos fundos do Campo.



"Para sempre esse lugar vai deixar um grito de desespero e um aviso para a humanidade, onde os nazistas assassinaram cerca de um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, principalmente judeus de vários países da Europa"

- Que Deus ilumine os homens que sofreram e sofrem por conta da ignorância de outros homens.

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